Prevenção de quedas em idosos: entenda a Síndrome da Fragilidade e como tornar a casa mais segura

Prevenção de quedas em idosos: entenda a Síndrome da Fragilidade e como tornar a casa mais segura

Introdução

Queda não é parte natural do envelhecimento. É evento sentinela: acende alerta para perda de força, problemas de visão, uso de medicamentos inadequados, desidratação ou ambientes inseguros. Cada queda aumenta o medo, reduz a mobilidade e pode abrir caminho para perda de autonomia. Meu objetivo é simples: prevenir a primeira queda e todas as próximas.

 

Síndrome da Fragilidade (SFI): o que é e por que importa

A SFI é uma condição clínica que torna o idoso mais vulnerável a eventos adversos (quedas, hospitalizações, incapacidade). Eu a avalio rotineiramente porque ela é modificável.
Sinais clássicos (≥3 indicam fragilidade; 1–2 = pré-fragilidade):
  • Perda de peso não intencional (≈ ≥5% em 12 meses)
  • Fadiga/exaustão frequente
  • Força reduzida (aperto de mão fraco, dificuldade de abrir potes/levantar)
  • Velocidade de marcha lenta (andar “arrastado”)
  • Baixa atividade física (sedentarismo)
Por que aumenta quedas?
Menos força + pior equilíbrio + marcha lenta = maior risco. A boa notícia: força, equilíbrio e marcha melhoram com treino e ajustes de rotina.
 

Principais fatores de risco para quedas (que eu sempre investigo)

  • Musculoesquelético: sarcopenia, artrose, dor crônica.
  • Neurológico/cognitivo: demências, Parkinson, neuropatias.
  • Cardiovascular: hipotensão postural, arritmias, síncope.
  • Sensoriais: baixa visão (catarata), perda auditiva.
  • Metabólicos: desidratação, hipoglicemia, deficiência de vitamina D.
  • Medicações: benzodiazepínicos, sedativos, anticolinérgicos, polifarmácia.
  • Ambiente: tapetes soltos, iluminação fraca, degraus sem corrimão.
  • Comportamento: pressa, levantar brusco, calçados inadequados.

 

Como conduzo a prevenção (passo a passo)

1) Avaliação Geriátrica Ampla
Histórico de quedas, marcha, equilíbrio (teste TUG), força de preensão, pressão em pé/deitado (hipotensão), visão, audição, hidratação, sono, humor e revisão de todas as medicações.
2) Plano de ação personalizado
  • Treino de força (2–3×/sem): membros inferiores (agachamento assistido, sentar-levantar, extensão de joelhos), progressivo.
  • Equilíbrio/coordenação (3–7×/sem): base reduzida, apoio unipodal assistido, Tai Chi, exercícios com dupla tarefa.
  • Marcha: caminhada supervisionada, cadência estável, orientação de bengala/andador quando indicado.
  • Visão e audição: encaminhamento/atualização de óculos, correção de catarata, aparelhos auditivos.
  • Vitamina D e nutrição: proteína adequada (1,0–1,2 g/kg/dia, salvo restrições), hidratação e correção de carências.
  • Revisão de fármacos: reduzir sedativos, ajustar diuréticos, simplificar esquemas (desprescrição segura).
3) Educação e rotina
  • Levantar devagar (sentar na beira da cama, respirar, só depois levantar).
  • Calçados fechados, firmes e antiderrapantes.
  • Hidratação distribuída ao longo do dia.
  • Evitar álcool e sedativos à noite.

 

Casa segura: checklist por cômodo

Entrada e circulação
  • Iluminação forte com interruptores acessíveis; sensor de presença ajuda muito.
  • Retirar tapetes soltos/fios; organizar móveis para corredores amplos.
  • Barras de apoio em pontos de transição (degraus, desníveis).
Quarto
  • Cama em altura adequada (joelho ~90° ao sentar).
  • Abajur/interruptor ao alcance; luz noturna para ida ao banheiro.
  • Telefone/alarme de fácil acesso.
Banheiro (local nº 1 de quedas)
  • Barras de apoio junto ao vaso e no box.
  • Assento elevado para o vaso, se necessário.
  • Tapete antiderrapante dentro e fora do box.
  • Banco de banho; chuveiro manual.
  • Evitar saboneteiras que escorregam; usar dispensers fixos.
Cozinha e área de serviço
  • Objetos de uso diário em prateleiras baixas.
  • Limpar imediatamente líquidos no chão.
  • Evitar subir em banquetas/cadeiras.
Sala
  • Mantê-la livre de obstáculos; fios embutidos.
  • Poltronas com apoio de braços para facilitar sentar/levantar.
Escadas/varandas
  • Corrimão bilateral; fita antiderrapante nos degraus.
  • Boa iluminação e contraste visual nos pisos.

 

Programa semanal sugerido

  • Seg/Qui (30–40 min): força de MMII + core + sentar-levantar (3×10–12)
  • Ter/Sex (20–30 min): equilíbrio (base estreita, semi-tandem, tandem, apoio assistido) + caminhada
  • Qua/Sáb (20–40 min): aeróbico leve (caminhada/ciclismo estacionário)
  • Todos os dias (5–10 min): mobilidade/alongamentos suaves
  • A progressão é lenta e contínua, sempre com segurança.

 

Perguntas frequentes (FAQ)

Queda sem fratura precisa de consulta?
Sim. Toda queda é sinal de risco. Investigamos causa e prevenimos a próxima.
Andador “vicia”?
Não. O dispositivo certo devolve autonomia e reduz quedas. O objetivo é usar bem — e, quando possível, evoluir.
Vitamina D previne quedas?
Avalio individualmente. Corrigir deficiência pode ajudar força e equilíbrio, mas é parte do plano (não solução única).
Benzodiazepínicos ajudam a dormir e acalmar — posso manter?
Em idosos, aumentam risco de quedas e confusão. Prefiro alternativas e desprescrição gradual quando indicado.
Cair “um pouquinho” é normal?
Não. Requer avaliação, treino e ajustes ambientais.
 

Sinais de que é hora de reavaliar

  • Novo episódio de queda ou quase-queda (“tropeçou, mas se segurou”).
  • Medo de andar ou de sair de casa.
  • Aumento de sonolência, tontura ou fraqueza.
  • Início recente de medicação sedativa.
  • Piora da visão/audição ou dor que limita movimento.

 

Conclusão

Prevenir quedas é proteger a autonomia. Quando identificamos SFI, treinamos força e equilíbrio, revisamos medicamentos e ajustamos a casa, a curva muda: mais segurança, mais confiança, mais vida ativa. Meu convite é simples: não espere a primeira queda. Prevenção começa hoje.

Agende uma avaliação com a Dra. Camila