Muitos remédios, mais riscos. Entenda polifarmácia, desprescrição segura e como organizar medicações para proteger memória, equilíbrio e autonomia.
Por que falo tanto sobre polifarmácia?
Usar muitos remédios ao mesmo tempo aumenta risco de quedas, confusão, tonturas, internações e interações perigosas. Em geriatria, menos é (muitas vezes) mais: o objetivo é o mínimo eficaz, com qualidade de vida e autonomia.
Sinais de alerta que pedem consulta
- 5 ou mais medicações diárias (incluindo “naturais”, chás e vitaminas).
- Sonolência, tontura, queda recente ou “cabeça lenta”.
- Esquecimento de doses, tomadas duplicadas, caixas de remédio “embaralhadas”.
- Início recente de sedativos/ansiolíticos para “dormir melhor”.
- Dor que só melhora aumentando dose continuamente.
Como abordo no consultório (plano prático)
- Inventário completo: trago todos os frascos/blisters. Incluo pomadas, gotas e fitoterápicos.
- Rever indicação/benefício de cada fármaco: o que ainda é necessário? Há alternativas não farmacológicas?
- Risco x benefício por idade/fragilidade: metas de pressão, glicemia e dor são individualizadas.
- Cascata medicamentosa: remédios para tratar efeito colateral de outro? Vamos interromper o gatilho.
- Desprescrição segura: retirar gradualmente sedativos/z-drugs/anticolinérgicos quando possível; monitorar sintomas.
- Simplificação: preferir 1 tomada/dia; usar combinações fixas quando fizer sentido.
- Ferramentas de organização: caixa semanal, alarme, lista impressa atualizada.
- Educação do cuidador: como observar reações e quando avisar.
Checklist do dia a dia
- Leve a lista atualizada de remédios a cada consulta (nome, dose, horário, motivo).
- Não inicie “por conta” chás/fitoterápicos: podem interagir.
- Evite benzodiazepínicos de rotina para sono/ansiedade: aumentam quedas e confusão.
- Beba água ao tomar comprimidos; evite triturar sem orientação.
- Pergunte sempre: “Ainda preciso deste remédio?”.
Perguntas frequentes
Posso parar um remédio de uma vez?
Depende. Alguns exigem retirada lenta (ex.: sedativos, antidepressivos, betabloqueadores).
Polivitamínico “não conta”?
Conta sim. Vitaminas e fitos também interagem.
E se o idoso “fica pior” quando reduzo?
Voltamos um passo e ajustamos. Desprescrição é planejada e monitorada.
Conclusão
Polifarmácia não é destino. Com revisão criteriosa, educação e simplificação do esquema, é possível reduzir riscos e melhorar disposição, memória e equilíbrio.